O grupo movimentou R$ 7 milhões apenas em 2022 com a venda do produto veterinário; substância é um anestésico, com aplicação hipnótica e aspecto analgésico.
Um grupo de agropecuaristas responsável por conduzir o maior esquema de tráfico de ketamina do país foi alvo de uma operação na manhã desta terça-feira (5), São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. As engrenagens que movimentavam o tráfico interestadual das drogas contavam com uma sofisticada rede de distribuição do anestésico animal Cetamim, responsável por movimentar R$ 7 milhões apenas em 2022.
A Polícia Civil (PC) brasiliense também já havia realizado uma operação, no início de novembro, contra agropecuaristas responsáveis por movimentar mais de R$ 3,5 milhões com o tráfico da substância em Brasília, Piauí e em Goiás.
Articulados, os traficantes alvos da operação de hoje, criaram em 2021 uma empresa agropecuária de fachada constituída com o único propósito de comercializar ilegalmente centenas de medicamentos veterinários controlados. Ao todo, são cumpridos 23 mandados de busca e apreensão e seis de prisão preventiva em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
A justiça também determinou a apreensão de veículos e o bloqueio de diversas contas bancárias. A operação teve a participação da 4ª Promotoria de Entorpecentes do DF e do Ministério de Agricultura (MAPA). Na ação, os investigadores apreenderam 10 mil ampolas da droga, o equivalente a R$ 4 milhões.
Inovação
Conforme as investigações conduzidas pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), até a identificação da organização criminosa, o tráfico de ketamina envolvia veterinários ou estabelecimentos que revendiam ilegalmente parte dos medicamentos adquiridos por eles.
Normalmente, ocorria o desvio de um percentual da substância adquirida que entrava no mercado ilegal. Essas vendas clandestinas eram omitidas ou dissimuladas nos relatórios enviados para o Ministério da Agricultura. A organização criminosa inovou montando um esquema em que toda a atuação empresarial seria voltada para o mercado clandestino.
A agropecuária de fachada, peça central do esquema criminosos, foi criada com a utilização de documentação falsa, exclusivamente para a aquisição de Cetamina e de sua distribuição ao menos para Rio de Janeiro, Pará, Rio Grande do Sul, São Paulo e Distrito Federal.
Movimentação milionária
Com toda a estrutura montada, os traficantes passaram a comprar grandes quantidades de medicamentos veterinários controlados junto à indústria e a grandes distribuidores. O esquema prosperou rapidamente e a empresa agropecuária tornou-se o maior cliente de uma das empresas fabricantes da Cetamina.
Apenas no último ano, a organização criminosa movimentou R$ 7 milhões em Cetamina e outros medicamentos. Ainda segundo as investigações, a aquisição da droga junto à indústria se dá pelo valor unitário da ampola de R$ 90 a R$ 100, enquanto ao ser vendida aos traficantes locais, cada ampola pode chegar ao valor de R$ 400.
Para cumprir todos os requisitos administrativos e receber a autorização de comercializar os medicamentos controlados, supostamente de forma legal, o esquema precisava de um médico veterinário responsável pelas aquisições das substâncias restritas.
É nesse momento que foi cooptada uma veterinária, apontada no contrato social da empresa como responsável técnica, e que foi cadastrada no sistema de controle de aquisições de medicamentos controlados do Ministério da Agricultura.
Centamim
O Cetamim é um medicamento controlado e tem na sua composição a cetamina. Essa substância, quando desidratada, é vendida como droga e ganha a denominação de ketamina, ou “Key”. Trata-se de uma droga de uso recreativo e cuja difusão vem apresentando significativo incremento nos últimos anos, em decorrência da popularização do seu consumo em festivais de música eletrônica.
No DF, apenas um dos investigados recebeu ao menos 30 encomendas contendo Cetamina. O mesmo criminoso também já havia sido preso pela Cord em 28 de fevereiro deste ano. Outro investigado também foi detido por policiais da 10ª DP (Lago Sul), em 29 de maio deste ano.
A partir dessas apreensões foi possível descortinar o maior esquema de tráfico de Cetamina do país. Esta Coordenação logrou em flagrar uma entrega realizada em 24 de outubro deste ano pela indústria à empresa envolvida na investigação de 252 frascos de Cetamina, os quais foram adquiridos diretamente da indústria pelo valor aproximado de R$ 25 mil.
FONTE: JORNAL DO VALE