Astrônomos ouvidos pela BBC News Brasil destacam cinco fenômenos popularmente conhecidos como ‘estrelas cadentes’ que poderão ser vistos nos céus de nosso país.
As populares “estrelas cadentes” rasgam o céu durante a madrugada e garantem um belo espetáculo para quem decidir dormir tarde — ou acordar cedo — para observá-las.
Conhecidos oficialmente como chuvas de meteoros, esses fenômenos têm data para acontecer — e alguns deles são mais visíveis em certas partes do globo, a depender da posição das constelações no céu, a ausência de nuvens e a fase da Lua naquela determinada noite.
Astrônomos ouvidos pela BBC News Brasil destacam cinco chuvas de meteoros que valem a pena ser observadas a partir do Hemisfério Sul: a Eta-Aquáridas, a Delta-Aquáridas do Sul, a Geminídeas, a Oriônidas e a Leônidas.
O que são chuvas de meteoros?
Os meteoros nada mais são do que o rastro dos cometas — grandes objetos feitos de poeira e gelo que surgiram a partir da formação do Sistema Solar há 4,6 bilhões de anos.
“Os cometas têm uma órbita ao redor do Sol que é muito mais demorada e alongada. Essas pedras de gelo ficam muito afastadas, na periferia do Sistema Solar”, explica o astrônomo Thiago Signorini Gonçalves, diretor do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“As órbitas deles são alteradas de tal forma que eles são ‘jogados’ na direção do Sol. Mas daí o Sol funciona quase como um estilingue, que acelera os cometas de volta e os arremessa onde estavam anteriormente”, complementa o especialista.
A chuva de cometas Eta-Aquáridas sobre a qual falaremos em detalhes adiante, por exemplo, está relacionada ao famoso cometa Halley.
Mas o importante aqui é que, nessa longa viagem, os cometas soltam detritos e poeira — os ingredientes básicos da chuva de meteoros.
Lembra que a Terra realiza a translação, ou a órbita ao redor do Sol que dura pouco mais de 365 dias?
Pois em algum momento dessa trajetória, nosso planeta atravessa um determinado lugar do espaço e entra em contato com os detritos deixados pela passagem do cometa justamente ali.
Essa poeira entra na atmosfera — numa faixa de altura que varia entre 80 e 120 km da superfície terrestre — e passa por um processo conhecido como abrasão.
“Esses pequenos objetos sofrem um choque com as moléculas da atmosfera e se iluminam por causa de uma reação termodinâmica, em que a energia da velocidade é transformada em calor e luz”, detalha o astrônomo Marcelo De Cicco, coordenador do projeto Exoss, que está ligado ao Observatório Nacional e faz o monitoramento de meteoros.
E é justamente essa “luz em movimento” que pode ser observada a olho nu — e ganha o nome de “estrela cadente” ou chuva de meteoros.
Vale destacar aqui que esses objetos são bem pequenos, então a maioria se desintegra ao entrar em contato com a atmosfera.
Algumas dessas pedrinhas até “sobrevivem” a esse processo e caem na superfície da Terra. Nesse caso, elas são chamadas de meteoritos.
As melhores chuvas de meteoros para ver a partir do Brasil
De Cicco destaca cinco fenômenos do tipo que são interessantes de observar a partir da perspectiva do Hemisfério Sul e do Brasil.
Veja abaixo a lista com as datas em que esses fenômenos vão ocorrer em 2025:
- Eta-Aquáridas: de 19 de abril a 28 de maio (o pico da chuva será em 5 de maio)
- Delta-Aquáridas do Sul: de 12 de julho a 23 de agosto (pico em 30 de julho)
- Oriônidas: de 2 de outubro a 7 de novembro (pico em 20 de outubro)
- Leônidas: de 6 a 30 de novembro (pico em 17 de novembro)
- Geminídeas: de 4 a 17 de dezembro (pico em 13 de dezembro)
Os nomes dessas chuvas estão relacionados ao radiante, ou ao lugar onde essas chuvas de meteoros parecem “brotar” no céu.
As Eta e a Delta Aquáridas, por exemplo, começam a partir da região onde fica a constelação de Aquário. As Oriônidas a partir de Orion, as Leônidas a partir de Leão, e assim por diante.
Mas isso não quer dizer que essas chuvas tenham algo a ver com essas estrelas (que, aliás, estão há muitos anos-luz de distância do Sistema Solar e do rastro dos cometas).
Esse é só um sistema que ajuda astrônomos profissionais e amadores a classificar e identificar esses fenômenos.
Em condições ideais — sem poluição luminosa e com céu claro — algumas dessas chuvas devem ter dezenas ou até mais de uma centena de meteoros por hora.
A previsão é que a Eta-Aquáridas tenha 50 meteoros/hora em seu pico, por exemplo.
Você pode acessar a tabela completa de todas as chuvas previstas para o ano nos sites do projeto Exoss ou da Organização Mundial de Meteoros.
Há outros eventos do tipo que são bem famosos, como é o caso das Perseidas ou das Líridas.
Mas De Cicco explica que elas ficam mais visíveis a partir do Hemisfério Norte — no Sul, é até possível observar uma parte delas, mas em alguns desses casos a posição do radiante fica mais próximo do horizonte, então uma parte do evento não aparece nos céus dessa região do globo.
Dicas para observar as chuvas de meteoros
“A primeira coisa que eu diria é: vá para um lugar escuro”, sugere Signorini Gonçalves.
A poluição luminosa das grandes cidades pode diminuir o contraste do céu e dificultar a visualização desse fenômeno.
“O ideal é ficar afastado do centro urbano, em geral num parque ou no alto de uma montanha, onde você terá uma visão bem ampla do céu, sem obstáculos que bloqueiam a visão”, complementa o astrônomo.
Algo que pode atrapalhar aqui é a fase da Lua. Se ela estiver cheia e brilhosa, pode ser que a chuva de meteoros não fique tão fácil de ver.
Mas qual a melhor hora para ver o fenômeno — e para onde olhar?
Os especialistas indicam fazer a observação durante a madrugada, quando fica bem escuro.
“Eu diria que a faixa entre a meia noite até o nascer do Sol é o momento em que você consegue assistir a entrada dos meteoros”, diz De Cicco.
Como a chuva de meteoros rasga o céu, geralmente é possível observar esse fenômeno se desenrolar em detalhes.
Mas o ideal é que você mire a visão (ou a câmera, caso deseje tirar fotos) ao menos na direção da constelação onde o evento começa.
Para fazer isso, a melhor coisa é ter em mãos algum aplicativo de celular especializado em astronomia, que faz um mapa do céu e identifica as estrelas que aparecem de acordo com sua localização geográfica.
“Daí é só sentar-se numa cadeira e apreciar”, sugere De Cicco.
“Especialmente nos meses mais frios de outono e inverno, vale sempre estar agasalhado e levar uma coberta, já que a temperatura cai bem durante a noite”, conclui o astrônomo.
FONTE: G1