Frigoríficos já suspenderam o abate de gado com destino aos EUA e estão redirecionando a produção para novos mercados
(O Globo) Uma semana após Donald Trump anunciar tarifas de 50% para os produtos brasileiros, os frigoríficos de Mato Grosso do Sul já suspenderam o abate de bovinos que seriam direcionados ao mercado americano. De acordo com Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul (Semadesc), o volume deve ser redirecionado ao mercado interno e a outros países, provocando queda nos preços ao consumidor final e aos produtores.
Segundo fontes do setor, grandes empresas como JBS e Marfrig já suspenderam o abate de gado com destino aos EUA e estão redirecionando a produção para novos mercados.
— Não vamos conseguir manter as exportações aos EUA com esse valor de taxa. Não vamos manter o processo de exportação. A cadeia produtiva já sente os impactos, e os frigoríficos já começaram a alterar suas escalas de produção, com a suspensão do abate para o mercado americano. Estamos atentos e preocupados. O segmento é relevante para o Estado — disse Verruck.
Segundo ele, os EUA representam atualmente 7,3% das exportações de carne bovina brasileira. Em 2024, os Estados Unidos se consolidaram como o segundo maior destino das exportações de carne bovina de Mato Grosso do Sul, respondendo por 18,42% do total comercializado e o equivalente a US$ 235,5 milhões e 49,6 mil toneladas embarcadas. O país ficou atrás apenas da China, que liderou o ranking com 24,18% das exportações, somando US$ 309 milhões e 66 mil toneladas.
No primeiro semestre de 2025, os Estados Unidos permaneceram como o segundo maior destino da carne bovina exportada por Mato Grosso do Sul, com US$ 235,5 milhões e 49,6 mil toneladas embarcadas. Isso representa 9,21% do valor total e 8,78% do volume físico exportado pelo Estado no período. A China manteve a liderança, com US$ 309 milhões (12,09%) e 66 mil toneladas (11,71%).
— Estamos acompanhando com preocupação, pois é um mercado relevante e de alto valor agregado, que permite margens adequadas. E, consequentemente, permite aos frigoríficos fazerem um bom mix de produtos e preços ao produtor de Mato Grosso do Sul.
O secretário lembrou que a carne bovina opera sob um sistema de cotas nos Estados Unidos. Acima de 65 mil toneladas, há uma taxação de 26,4%. E, segundo ele, com um adicional de 50%, as exportações se tornam inviáveis.
— As empresas que já abateram hoje não conseguem mais enviar para os EUA até primeiro de agosto. Portanto, há aumento de estoque nos frigoríficos de MS. Todas essas empresas já deixaram de abater para os EUA.
Segundo o secretário, como consequência, no curto prazo haverá redução no abate, pela impossibilidade de alocação desse produto em outros mercados de forma rápida:
— A realocação para outros países não é tão rápida. A outra consequência é a recolocação desse produto no mercado interno. Como é um produto perecível, pode haver uma redução de preço ao consumidor e também uma redução de preço ao produtor.
Verruck lembra que o objetivo é continuar vendendo aos EUA.
— Isso seria fundamental. Temos falado com o governo federal para uma prorrogação na implantação da reciprocidade da tarifa, para que os estoques que temos possam ser levados ao mercado americano e que tenhamos tempo para buscar outros mercados. Não achamos que a intenção do governo seja aplicar a reciprocidade no curto prazo.
Procuradas, as empresas ainda não retornaram.
FONTE: MAISGOIÁS