Meninos nascerem no dia 15 de outubro de 2021, com 14 minutos de diferença. Partos foram realizados por equipes médicas diferentes.
Os pais dos bebês que foram trocados na maternidade afirmam que não puderam acompanhar o nascimento dos filhos por conta de restrições estabelecidas no período da pandemia de Covid-19. Os meninos, atualmente com 3 anos, nasceram no Hospital da Mulher, em Inhumas, Região Metropolitana de Goiânia.
De acordo com as famílias, as crianças nasceram no dia 15 de outubro de 2021 de partos cesarianas, realizados por equipes médicas diferentes. Um deles nasceu às 7h35 e, o outro, 14 minutos depois, às 7h49. Eles são filhos de Yasmin Kessia da Silva e Cláudio Alves, e de Isamara Cristina Mendanha e Guilherme Luiz de Souza.
As famílias falaram com a imprensa nesta quinta-feira (5). Elas contaram que só descobriram a troca no fim de outubro de 2024, depois que Yasmin e Cláudio se separaram, e o homem pediu um teste de DNA para comprovar a paternidade da criança.
Em nota divulgada na quarta-feira (4), a administração do Hospital da Mulher informou que está oferecendo todas as informações e documentos necessários para investigação e que tem todo interesse em esclarecer os fatos (confira a nota na íntegra ao final da matéria).
O g1 solicitou um posicionamento atualizado na quinta-feira (5) sobre os protocolos de Covid estabelecidos pela unidade, mas a unidade informou que não irá se pronunciar até que as investigações sem concluídas.
As famílias disseram que as mães não tiveram nenhum acompanhamento durante o parto. Elas só se lembram de ver os filhos no quarto, depois que passou o efeito da anestesia. Nenhuma delas se lembra se havia pulseiras de identificação nas crianças.
“Eu acordei e o bebê já estava do meu lado, minha mãe estava dentro do quarto. Eu me lembro de relances”, narrou Yasmin Késsia da Silva. Ela disse que passou mal durante o parto e não se lembra do que aconteceu na sala de recuperação.
Já Isamara disse que chegou ao quarto antes do bebê, que foi levado até ela logo em seguida. “Eu levei a primeira roupinha do meu primeiro filho para colocar no segundo. E para mim, veio tudo certo [a roupinha do bebê]”, contou.
O marido de Isamara afirmou que sente que faltou cuidado e respeito com as famílias por parte do hospital, que recebeu a confiança deles.
“É um pesadelo. Eu acho que ninguém deveria passar por isso. Esse é um erro que os profissionais da saúde jamais deveriam cometer”, afirmou Guilherme.
Yasmin Késsia da Silva e Cláudio Alves se separaram e o homem questionou a paternidade da criança. A mulher disse ter ficado revoltada no início, mas que depois concordou em realizar o exame.
O resultado do exame saiu no dia 31 de outubro de 2024 e o laboratório chegou a repetir a análise.
“Eles disseram que o sangue do meu filho não era compatível com o meu. Eu pensei que era um erro. Mas veio a contraprova. Eu estava esperançosa que ia dar tudo certo, que ele era meu. Aí a gente pegou o laudo e viu que ele não era nosso”, disse Yasmin.
Yasmin contou que se lembrava de ver a outra família no hospital antes do parto, também aguardando para receber o bebê. Ela conhecia Guilherme de vista, por ele ser um professor conhecido na cidade.
A mãe disse que sabia qual igreja que Guilherme e Isamara frequentavam. Ela procurou um pastor do local para contar sobre o caso e pedir ajuda. Eles decidiram que o pastor contaria a situação para a outra família.
“O Márcio [pastor da igreja] veio nos comunicar. De imediato, perguntamos o que fazer e fizemos o DNA. De lá para cá, praticamente tudo acabou”, declarou Isamara Cristina.
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, como base no Estatuto da Criança e do Adolescente. Embora a Justiça deva determinar o futuro das crianças, as famílias declararam estar divididas.
“Esse erro mexeu com o destino das nossas vidas. Eu realmente não conhecia ninguém da outra família. Então, é um choque muito grande. Estamos sem chão e não sei como a gente vai fazer de agora para frente”, disse Cláudio Alves.
Isamara Cristina declarou que foram três anos cuidando de uma criança, e que eles têm um outro filho biológico agora. “Nós queremos aproximação e, a partir desse momento, ser uma grande família”, afirmou a mãe.
NOTA – Hospital da Mulher
O Hospital São Sebastião de Inhumas Ltda, informa que recentemente tomou conhecimento de uma situação envolvendo uma suposta troca de bebês ocorrida em sua maternidade há cerca de três anos. Assim que os fatos foram trazidos ao conhecimento da instituição pelos próprios familiares, medidas imediatas foram adotadas para garantir a apuração completa e transparente do ocorrido.
O hospital voluntariamente oficiou a Polícia Civil, oferecendo todas as informações e documentos necessários para que as investigações sejam conduzidas com rigor e imparcialidade. A instituição reitera que está colaborando ativamente com as autoridades e que tem todo o interesse em esclarecer os fatos e identificar qualquer eventual responsabilidade.
Por se tratar de um caso sensível e que envolve dados sigilosos, o processo de investigação está sendo conduzido em conformidade com a lei, resguardando a privacidade e o direito das famílias envolvidas. Nesse sentido, o hospital pede a compreensão da sociedade e da imprensa, reforçando o compromisso com a ética, a segurança e a transparéncia.
O Hospital São Sebastião de lnhumas reafirma o seu empenho em revisar e aprimorar continuamente seus protocolos de segurança, garantindo a qualidade e a confiança em seus serviços, tendo total interesse nas investigações realizadas.
Informa ainda que existe uma sindicância interna para apurar eventual erro ocorrido e seus responsáveis.
Ainda, por se tratar de um caso sensível que envolve menores de idade, bem como dados protegidos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o hospital está legalmente impedido de fornecer informações detalhadas à imprensa neste momento.
Agradecemos a compreensão e reforçamos que todas as ações estão sendo conduzidas com o máximo respeito à privacidade das famílias e à legislação vigente.
Nota da Polícia Civil
A Polícia Civil de Goiás informa que a Delegacia de Inhumas – 16ª DRP investiga possível crime previsto no artigo 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente (deixar o médico de identificar corretamente o neonato e a parturiente por ocasião do parto), em que dois bebês teriam sido trocados no hospital da cidade. O fato foi descoberto após um dos casais envolvidos resolver se separar, tendo feito exames de DNA que comprovaram que o filho não era biologicamente compatível com nenhum dos dois. Os envolvidos já foram ouvidos e o inquérito policial prossegue com diligências em andamento para esclarecer a dinâmica do fato e sua autoria.
FONTE:G1/GOIAS