Geopolítica, tecnologia e transição energética colocam o estado no centro da disputa global por insumos estratégicos
Goiás entrou de vez no mapa das potências globais que disputam os insumos da transição energética. No centro do tabuleiro estão as chamadas terras raras, minérios essenciais para a produção de baterias, ímãs permanentes e motores de carros elétricos. Como o Mais Goiás já repercutiu, Estados Unidos, Japão, China e Europa já monitoram áreas de exploração no estado.
Geólogo e presidente do Sindicato das Indústrias de Mineração de Goiás e do Distrito Federal (Minde), Luiz Antônio Vessani lista os principais minérios que despertam o interesse das potências: “Temos terras raras, nióbio, níquel, ouro, tântalo, cobre e fosfato. Todos eles são usados em cadeias produtivas de alta tecnologia e agricultura”.
Utilidade de minerais estratégicos
As terras raras, por exemplo, são cruciais na fabricação de ímãs permanentes usados em turbinas eólicas e carros elétricos. Já o nióbio e o níquel são insumos-chave para ligas metálicas e a produção de aço inoxidável. O cobre está presente em praticamente todo sistema elétrico. “O ouro, além de ser ativo monetário, é muito importante na indústria de tecnologia, pela capacidade de condução quase sem resistência”, explica Vessani.
Além da riqueza subterrânea, Goiás se destaca como um dos poucos locais fora da Ásia com produção comercial de terras raras em argila iônica, como ocorre na cidade de Minaçu. A jazida atrai atenção redobrada. “Hoje, temos quatro mercados disputando nossas terras raras: EUA, China, Europa e Japão”, afirmou o secretário estadual de Indústria e Comércio, Joel Sant’Anna Braga. “Goiás virou carta sobre a mesa.”
Possibilidade de novas descobertas
De acordo com o governo estadual, estão em operação ou fase de estudo avançado minas em Minaçu, Nova Roma, Mara Rosa e Iporá. Apenas 35% do solo goiano foi estudado até agora, o que abre margem para novas descobertas. “Tem outras coisas, mas ainda estão no nível especulativo, no campo das pesquisas”, comentou Vessani.
O fosfato também se destaca. Base para fertilizantes usados no agronegócio, o produto é explorado por empresas chinesas e americanas. Já o calcário, outro insumo agrícola, é produzido por grupos locais. “Goiás é o segundo produtor nacional de fertilizante fosfatado”, lembra Vessani.
Interesse japonês
Durante missão ao Japão, o governo de Goiás apresentou dados sobre as jazidas goianas. A resposta foi imediata. “No início, eles estavam desanimados. Mas quando apresentamos as jazidas de terras raras pesadas em Goiás, a postura mudou”, contou Joel Sant’Anna. Agora, uma missão japonesa está prevista para agosto, com visitas técnicas às minas.
O Japão também demonstrou interesse em agregar valor à cadeia, ao invés de apenas comprar o minério bruto. “Querem comprar concentrado mineral e processar em Goiás. Isso agrega valor localmente”, disse Vessani.
Além do Japão, grupos americanos também já solicitaram licenças para atuar em Goiás, principalmente em Nova Roma. A condição imposta pelo estado é que as empresas transfiram tecnologia e instalem unidades de beneficiamento.
Disputa estratégica
A disputa pelas reservas goianas reflete um desafio global. Atualmente, a China controla cerca de 90% do mercado de terras raras e lítio. Os EUA querem diversificar sua dependência e reconfigurar suas cadeias produtivas. “Mesmo que os EUA tenham o mineral bruto, eles não têm tecnologia para fazer a separação”, disse o prefeito de Minaçu, Carlos Alberto Leréia. “Apenas a China tem essa capacidade hoje.”
De acordo com Vessani, os movimentos diplomáticos precisam ocorrer com urgência para evitar perda de competitividade. “Se o Brasil não negociar redução das tarifas impostas pelos EUA, teremos impactos inclusive no setor agrícola e sucroenergético”, alerta.
Terras Raras: os principais minérios produzidos por Goiás
1. Cobre: Usado em sistemas elétricos e eletrônicos.
2. Níquel: Essencial para aço inoxidável e ligas industriais.
3. Nióbio: Matéria-prima estratégica para tecnologia, energia e indústria aeroespacial.
4. Ouro: Além de ativo financeiro, é importante na indústria de tecnologia.
5. Fosfato: Insumo fundamental para fertilizantes na agricultura.
6. Terras raras: Goiás é referência nacional, com produção comercial de elementos como neodímio, disprósio, térbio e praseodímio, essenciais para ímãs de carros elétricos e turbinas eólicas.
7. Calcário: Usado na correção do solo agrícola.
8. Bauxita: Produção de alumínio.
9. Vermiculita: Isolamento térmico e agrícola.
FONTE: MAISGOIÁS