Com um abraço interminável e a expressão de amor puro, uma mãe que jamais deixou de procurar encontra o filho desaparecido há dois anos. O reencontro foi em Fortaleza, no Ceará, e contou com a persistência de uma mãe amorosa e do amparo de órgãos públicos do estado, como a Secretaria de Direitos Humanos e a Defensoria Pública.
Dona Maria Gomes não parava de olhar para o filho, desaparecido desde dezembro de 2021. Ele estava internado para tratamento de dependência química em uma clínica de reabilitação, em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, de onde fugiu e passou a viver em situação de rua.
“Eu rezava e pedia a Deus para guiar os meus passos até o meu filho e guiar os passos dele até os meus. Deus ouviu o meu clamor, minhas preces, orações e me devolveu meu filho […] Eu queria dizer para todas as mães que têm um filho sumido que não desistam, que vão atrás, que lutem. Eu me mudei de onde eu morava pra ficar mais perto de procurar por ele porque a minha vida tinha acabado longe dele.” disse Dona Maria.
“Muitos anjos” a ajudaram
Dona Maria mudou de Caucaia para Fortaleza em busca do filho desaparecido. Segundo ela, “muitos anjos” a ajudaram durante o caminho. A mãe elogiou a dedicação do delegado, por exemplo, que era incansável, os responsáveis pela clínica e até de funcionários do IML (Instituto Médico Legal) ela obteve apoio.
Na tentativa de encontrar o filho desaparecido, a mãe fez boletim de ocorrência no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), registrou também na Delegacia de Iparana, em Caucaia, e jamais parou de procurá-lo.
A mãe, que percorreu numerosas vezes Caucaia e região, parecia incrédula ao lado do filho até então desaparecido: “Não tem nome para esse sentimento. Voltar a abraçar o meu filho foi a maior emoção que já senti em toda a minha vida”.
Esperança
Consciente da doença do filho, a mãe disse que a família está determinada a seguir no apoio para a reabilitação de Jorge Dalvan. Profissionais de saúde seguem no amparo à família.
“Sabemos que ele estava muito debilitado, mas a família está cuidando dele e com o coração cheio de esperança para um recomeço porque é muito raro ter um caso assim. Foram quase dois anos desaparecido e a história teve um final positivo”, disse a psicóloga Christiane Alencar.
A profissional disse que é fundamental acompanhar com atenção e cuidado cada caso de desaparecimento porque envolve muita dor, mas também esperança.
“Estamos acompanhando também uma mulher, cujo filho de 26 anos, esquizofrênico, sumiu há quase um mês. Ela diz que queria ser invisível, porque todo mundo pergunta por ele. Tem mães que dizem que enterram o filho todo dia. Essa dor do luto é constante e quando encontramos um caso de um final feliz, como o da dona Maria, nosso coração é reaquecido.”
Estava totalmente diferente
A mãe ao reencontrar o filho admitiu que foi o coração que a convenceu que aquele era Jorge porque estava totalmente diferente.
“Outra pessoa não o reconheceria porque não era aquele que sumiu da clínica. Ele estava velho, uma barba grande, suja, mas eu reconheci, vi que era ele.”
Dona Maria buscou ajuda também em grupos de familiares auto-organizados de pessoas desaparecidas e organizações da sociedade civil que atendem pessoas que passaram por situações de violência é uma forma de auxiliar a compartilhar os sentimentos que envolvem o desaparecimento.
“O impacto do desaparecimento de um ente querido ainda é pouco compreendido”, disse Daniel Mamede, assessor técnico do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). “Além do sofrimento psíquico e do impacto na saúde física, é comum que o desaparecimento provoque consequências de ordem administrativa e jurídica para as famílias.”
A Defensoria Pública do Estado do Ceará e o Comitê Estadual de Enfrentamento ao Desaparecimento estão juntos para chamar a atenção sobre o assunto.
Com informações da Defensoria Pública do Ceará
FONTE: SO NOTICIA BOA