De acordo com perito, casal havia cortado tela de proteção para tentar respirar um pouco de ar. Homem que aplicou produto foi indiciado por incêndio culposo.
O perito criminal Fernando Lerbach explicou detalhes sobre o incêndio que causou a morte de Graciane Rosa de Oliveira, de 35 anos, do marido dela, Luiz Evaldo, de 28 anos, e do filho do casal, Léo, de apenas 19 dias, em Valparaíso de Goiás. Segundo o perito, o pai do bebê caiu ao tentar segurar a mulher, que se desequilibrou com o filho.
De acordo com o perito, a família havia cortado a tela para tentar respirar um pouco de ar. Nesse momento, a mãe, que estava perto da janela com o bebê nos braços, perdeu o equilíbrio. O pai tentou ampará-la, segurando na tela de proteção, mas a tela se rompeu. Segundo Fernando Lerbach, a família estava no quarto e não teve tempo de escapar antes das chamas se alastrarem.
O perito também explicou que outro fator que demonstra que as vítimas caíram de forma acidental é a proximidade com que os corpos estavam da prumada do prédio.
“Quando a gente faz uma análise, um dos parâmetros que usamos é o deslocamento da vítima em relação ao ponto em que ela caiu. Quando é uma queda acidental, geralmente essa proximidade é bem pequena, como foi o caso. Todas as vítimas estavam muito próximas à prumada do prédio, o que indica para nós que foi realmente uma queda acidental, e não alguém que se projetou para frente”, explicou o perito.
O incêndio foi causado por um solvente usado para impermeabilizar o sofá da casa, conforme informou a Polícia Civil. Segundo o delegado Bruno Van Kuyk, que conduz as investigações, a perícia concluiu que o fogo começou na cozinha, onde estava Maria das Graças, mãe de Graciane.
Conforme o delegado, o homem que aplicou o produto não era um técnico habilitado e foi indiciado por incêndio culposo, que resultou nas três mortes e na lesão corporal de Maria das Graças. O delegado também explicou que o homem que fez a impermeabilização tentou retornar ao local para ajudar no resgate das vítimas, mas não conseguiu. Ele chegou a auxiliar Maria das Graças, segundo o delegado.
O g1 não conseguiu localizar a defesa do prestador de serviço que foi indiciado até a última atualização da reportagem.
Produto
O produto químico responsável pelo incêndio foi adquirido por Graciane pela internet, segundo o delegado. O solvente não apresenta cheiro e é altamente inflamável.
À polícia, o prestador de serviço disse que iria fazer a impermeabilização como um favor. “Nós apreendemos o celular dele e comprovamos que ele só cobraria pela limpeza do sofá e não pela impermeabilização. Com a quebra do sigilo bancário das vítimas, descobrimos que Graciane foi, realmente, quem comprou o produto pelo Mercado Livre”, disse o delegado.
O perito Fernando Lerbach afirmou que, ao ser vaporizado para impermeabilizar o sofá, o produto se espalhou. “A medida que o gás foi subindo no ambiente, entrou em contato com o fogo da chama do fogão e causou a explosão. Com a explosão, o fogo se espalhou com muita rapidez”, afirmou o perito.
A recomendação, de acordo com o Corpo de Bombeiros, é que a impermeabilização seja realizada em locais arejados e somente por profissionais qualificados.
O incêndio aconteceu na manhã do dia 27 de agosto, enquanto um técnico de impermeabilização de sofá estava no apartamento do 7º andar do Bloco E, no Condomínio Residencial Parque das Árvores, em Valparaíso de Goiás.
Luiz Evaldo de Lima e Graciane Rosa de Oliveira, juntamente com o filho Léo, recém-nascido, morreram por conta das diversas fraturas que tiveram ao caírem do prédio. O técnico de impermeabilização e a mãe de Graciane conseguiram fugir das chamas com vida, embora tenham ficado feridos.
Um vídeo mostra o momento da explosão com áudio. É possível ouvir o estrondo, seguido de muita fumaça saindo das janelas. Rapidamente, as pessoas começam a gritar e cães começam a latir.
Os apartamentos do sexto ao 11º andar foram todos interditados, até que a Polícia Científica concluísse a perícia no local e o laudo da Defesa Civil garantisse que a estrutura não corria risco de queda ou qualquer outro problema.
Impermeabilização de sofás
O g1 consultou o Corpo de Bombeiros Militares de Goiás (CBM-GO) e especialistas em impermeabilização para entender os riscos de incêndio. O tenente-coronel Luiz Eduardo Machado Lobo, assessor de comunicação do CBM-GO, explicou que os principais riscos estão ligados ao uso de produtos químicos inflamáveis, como solventes e sprays, que liberam vapores perigosos.
“Se esses produtos não forem aplicados corretamente ou se o ambiente não for devidamente ventilado, há um risco significativo de acúmulo de vapores que podem pegar fogo facilmente. Além disso, a exposição a fontes de calor durante a aplicação ou secagem pode aumentar o risco de ignição dos produtos químicos”, explicou o tenente-coronel.
Para explicar mais sobre os produtos utilizados, o g1 entrevistou Luana Godinho de Bastos, consultora de uma fábrica de produtos para impermeabilização que atua desde 1979, e Murillo Mota Silva e Zainy Pereira Batista Mota, especialistas no serviço em Goiânia.
“Algumas empresas optam por produtos mais baratos, mas altamente inflamáveis. Elas adicionam um componente que retarda a chama, mas o produto continua sendo explosivo, pois os gases liberados se acumulam no ambiente e podem causar explosões. Até a eletrostática do corpo pode desencadear uma explosão nesses casos”, alertou Luana Godinho.
Luana explicou que existem diferentes tipos de produtos de impermeabilização no mercado: à base de água, à base de solvente inflamável, e à base de solvente não inflamável.
Quais são as medidas de segurança recomendadas?
O Corpo de Bombeiros Militar recomenda diversas medidas de segurança para quem realiza serviços de impermeabilização. Entre elas:
- Leitura atenta das instruções dos produtos;
- Garantia de ventilação adequada durante e após a aplicação;
- Armazenamento de produtos inflamáveis em locais frescos, secos e longe de fontes de ignição;
- Uso de equipamentos de proteção individual apropriados;
- Manter extintores de incêndio em locais acessíveis e funcionais;
- Treinamento adequado para os funcionários, garantindo que todos estejam cientes dos riscos e das práticas seguras.
FONTE:G1/GOIAS