Do petróleo ao farelo de soja, passando pelo gás natural e pelo açúcar, a segunda-feira (30) é de baixas fortes e generalizadas para as commodities negociadas nas bolsas internacionais. E o Dia das Bruxas, pasmem, é só amanhã, 31 de outubro! O que essa semana reserva aos mercados? Neste momento há mais perguntas do que respostas, mas alguns cenários que já vem sendo monitorados de perto e há algum tempo, em especial o do petróleo, que é quem lidera as baixas no pregão de hoje. Na tarde desta segunda, perto de 15h (horário de Brasília), o WTI perdia 3,2% para US$ 82,83 por barril, enquanto no brent a perda era de 2,6% para US$ 86,89. Na esteira, o gás natural perdia quase 4%.
As únicas que se destacam e caminham na contramão são as metálicas, com o ouro, prata e cobre subindo, lideradas pela prata, com mais de 2% de alta. E sobem também os índices acionários neste começo de semana.
No entanto, os ajustes que se apresentam nesta segunda-feira podem não ser o caminho mais definido e claro para as commodities, ao menos na perspectiva do Banco Mundial, particularmente em razão do conflito no Oriente Médio, entre Israel e o grupo extremista Hamas. Desde o início da guerra, que entra em seu 24º dia, o petróleo já acumula um ganho de perto de 6%. O mercado do óleo precifica, além dos temores com o conflito acontecendo na principal região produtora do mundo, o contexto histórico envolvendo países como Arábia Saudita, Irã e o Kuwait.
Assim, entre preocupações com a demanda – em função da economia global ainda fragilizada – e da escalada da onfesiva em Gaza, o Banco Mundial acredita nos preços do petróleo podendo testar um intervalo de US$ 81,00 a US$ 90,00 por barril, porém, podendo transitar em uma banda de US$ 93,00 a US$ 102,00 em caso de um choque no mercado. Essa máxima pode, inclusive, ser superada, caso a disrupção no abastecimento seja ainda mais grave.
“A crise energética da década de 1970 levou muitos países a reforçar as suas defesas contra a volatilidade dos preços, reduzindo a sua dependência do petróleo, explorando recursos energéticos expandidos e estabelecendo reservas estratégicas de petróleo, entre outras medidas”, afirmaram os especialistas da Bloomberg diante do relatório do Banco Mundial.
Se para o petróleo o cenário é mais incerto e nebuloso dado seu vínculo mais latente com as guerras em andamento – incluindo a invasão da Rússia à Ucrânia – o Banco Mundial já estima uma queda nas agrícolas. “A projeção é de que os preços das commodities agrícolas caiam no ano que vem em função de um aumento dos estoques”, informa o reporte da instituição. “Entre as metálicas, também se espera uma queda, neste caso de 5% em 2024. E em 2025, os preços das commodities deverão se estabilizar”.
E como estes caminhos se cruzam? E no que impactam para o agronegócio brasileiro? “Preços mais altos do petróleo, ao serem mantidos, significam preços mais altos dos alimentos”, explica o diretor do Prospects Group e economista chefe do Banco Mundial, Ayhan Kose. “Se um grave choque nos preços do petróleo se materializar, aumentaria a inflação dos preços dos alimentos, que já foi elevada em muitos países em desenvolvimento. No final de 2022, mais de 700 milhões de pessoas – quase um décimo da população mundial – estavam subnutridas. Uma escalada do último conflito intensificaria a insegurança alimentar, não só na região, mas também em todo o mundo”, complementa o executivo.
Assim, ainda segundo os especialistas do Banco Mundial, os ‘tomadores de decisão’ e reponsáveis pelas políticas de abastecimento dos mais diversos países mundo a fora terão de permanecer atentos e monitorando os conflitos já que, se agravando, a inflação global também pode se agravar.
“Dado o risco de uma maior insegurança alimentar, os governos devem evitar restrições comerciais, tais como proibições de exportação de alimentos e fertilizantes. Tais medidas intensificam a volatilidade dos preços e aumentam a insegurança alimentar, além do controle de preços e subsídios aos preços em resposta ao aumento dos alimentos e do petróleo. Uma opção melhor é melhorar as redes de segurança social, diversificar as fontes alimentares e aumentar a eficiência na produção e comércio de alimentos”, afirma o banco em seu reporte deste 30 de outubro de 2023.
No terceiro trimestre deste ano, os preços das commodities subiram liderados pelas energéticas. E embora elas estejam em níveis ‘apenas’ ligeiramente abaixo dos anteriores à invasão da Rússia à Ucrânia e muito acima do período pré-Covid, a inflação dos alimentos no mundo todo dá sinais de recuo, ao passo em que a insegurança alimentar permanece bastante latente, mais pelo atual cenário geopolítico do que pela oferta de comida ou matéria-prima para que seja produzida.
“Antes do último conflito no Oriente Médio, os preços das commodities agrícolas caíram 3% no terceiro trimestre, impulsionados, principalmente, por quedas no preço dos alimentos, que é o principal componente do índice. O índice de preços dos alimentos caiu 3%, liderado por uma queda de 7% nos grãos. A não renovação do corredor de exportação no Mar Negro, a proibição de exportação de arroz não basmati pela Índia – além da restrição em suas exportações de açúcar – e mais o El Niño impulsionaram a volatilidade nos preços agrícolas. Todavia, uma oferta maior de alguns produtos manteve os preços numa ligeira tendência descendente”, traz o reporte do Banco Mundial.
Ainda assim, de setembro até o início da guerra entre Israel e Hamas, os preços dos produtos agrícolas já marcam altas de quase 4%. O cenário deixa claro, portanto, que a insegurança alimentar e, principalmente a inflação dos alimentos não estam salvas de passarem pelo atual momento sem sentirem, pelo menos, uma intensificação da volatilidade das commodities agrícolas.
Somente nesta segunda-feira, na Bolsa de Chicago, os futuros dos grãos cederam forte, liderados pelo trigo, com perda de mais de 1,5% entre as posições mais negociadas, baixas de 0,9% na soja, de 0,5% no milho e de mais de 3% no farelo. Em Nova York, os preços do açúcar cederam mais de 2% e puxaram as perdas, que no café e no algodão se mostraram superiores a 1%.
FONTE: NOTÍCIAS AGRÍCOLAS