quinta-feira, outubro 10, 2024
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Homem que recebeu transplante de rim de porco tem alta hospitalar

Richard Slayman, 62, foi primeiro paciente a receber um rim suíno geneticamente modificado

O primeiro paciente a receber um rim transplantado de um porco geneticamente modificado bem-sucedido teve alta do hospital na quarta-feira (3), apenas duas semanas após a cirurgia inovadora.

O transplante e seu resultado encorajador representam um momento notável na medicina, dizem os cientistas, possivelmente prenunciando uma era de transplantes de órgãos entre espécies.

Dois transplantes de órgãos anteriores de porcos geneticamente modificados falharam. Ambos os pacientes receberam corações e ambos morreram algumas semanas depois. Em um paciente, houve sinais de que o sistema imunológico havia rejeitado o órgão, um risco constante.

Richard Slayman, 62 anos, recebeu o transplante de rim de porco no último dia 21 de março e o rim está produzindo urina, removendo resíduos do sangue, equilibrando os fluidos do corpo e realizando outras funções-chave, de acordo com seus médicos no Hospital Geral de Massachusetts.

“Este momento —sair do hospital com um dos atestados de saúde mais positivos que tive em muito tempo— é algo que eu esperava há muitos anos”, disse ele em um comunicado emitido pelo hospital. “Agora é uma realidade.”

Ele disse ter recebido “cuidados excepcionais” e agradeceu a seus médicos e enfermeiros, bem como aos bem-intencionados que o contataram, incluindo pacientes renais que estavam aguardando um órgão.

“Hoje marca um novo começo não apenas para mim, mas também para eles”, disse Slayman.

O procedimento aproxima significativamente a perspectiva da xenotransplantação, ou transplantes de órgãos de animais para humanos, da realidade, disse David Klassen, diretor médico da United Organ Sharing Network (Rede Unida pelo Compartilhamento de Órgãos, em tradução livre), que gerencia o sistema de transplante de órgãos do país.

“Embora muito trabalho ainda precise ser feito, acredito que o potencial disso para beneficiar um grande número de pacientes será realizado, e isso era uma incógnita pairando sobre o campo”, disse Klassen.

Se o corpo de Slayman eventualmente rejeitará o órgão transplantado ainda é desconhecido, observou Klassen. E existem outros obstáculos: uma operação bem-sucedida teria que ser replicada em vários pacientes e estudada em ensaios clínicos antes que os xenotransplantes se tornem amplamente disponíveis.

Se esses transplantes forem ampliados e integrados ao sistema de saúde, existem desafios logísticos “intimidantes”, disse ele, começando com a garantia de um suprimento adequado de órgãos de animais geneticamente modificados.

O custo, é claro, pode se tornar um obstáculo importante. “Isso é algo que realmente podemos tentar de forma real no sistema de saúde?” disse Klassen. “Precisamos pensar sobre isso.”

O tratamento da doença renal já é um grande gasto. A doença renal em estágio terminal, o ponto em que os órgãos estão falhando, afeta 1% dos beneficiários do Medicare, o principal plano de saúde financiado pelo governo americano, mas representa 7% dos gastos do programa, de acordo com a Fundação Nacional dos Rins.

No entanto, o potencial médico para a transplantação de porco para humano é tremendo.

Slayman optou pelo procedimento experimental porque tinha poucas opções restantes. Ele estava tendo dificuldades com a diálise devido a problemas com seus vasos sanguíneos e enfrentava uma longa espera por um rim doado.

O rim transplantado para Slayman veio de um porco geneticamente modificado pela empresa de biotecnologia eGenesis. Os cientistas da empresa removeram três genes que poderiam desencadear a rejeição do órgão, inseriram sete genes humanos para melhorar a compatibilidade e tomaram medidas para inativar retrovírus transportados por porcos que podem infectar humanos.

Mais de 550 mil americanos têm insuficiência renal e necessitam de diálise, e mais de 100 mil estão em lista de espera para receber um rim transplantado de um doador humano.

Além disso, dezenas de milhões de americanos têm doença renal crônica, que pode levar à falência do órgão. Negros, latinos e nativo-americanos têm as maiores taxas de doença renal em estágio terminal. Os pacientes negros geralmente têm um prognóstico pior do que brancos e têm menos acesso à doação de rim.

Embora a diálise mantenha as pessoas vivas, o tratamento de escolha para muitos pacientes é um transplante de rim, que melhora drasticamente a qualidade de vida. Mas apenas 25 mil transplantes de rim são realizados a cada ano, e milhares de pacientes morrem anualmente enquanto aguardam um órgão humano devido à falta de doadores.

Os xenotransplantes têm sido discutidos como uma solução potencial há décadas.

O desafio em qualquer transplante de órgão é que o sistema imunológico humano está preparado para atacar tecidos estrangeiros, causando complicações potencialmente fatais para os receptores. Os pacientes que recebem órgãos transplantados geralmente precisam tomar medicamentos destinados a suprimir a resposta do sistema imunológico e preservar o órgão.

Slayman apresentou sinais de rejeição no 8º dia após a cirurgia, de acordo com Leonardo Riella, diretor médico de transplante de rim no Hospital Geral de Massachusetts (o programa de transplante foi desenvolvido pela instituição-mãe, o Hospital Geral de Brigham).

A rejeição foi um tipo chamado rejeição celular, que é a forma mais comum de rejeição aguda de enxerto. Pode acontecer a qualquer momento, mas especialmente dentro do primeiro ano de um transplante de órgão. Até 25% dos receptores de órgãos experimentam rejeição celular nos primeiros três meses.

A rejeição não foi inesperada, embora Slayman tenha vivenciado o efeito mais rapidamente do que o usual, diz Riella. Os médicos conseguiram reverter a rejeição com esteroides e outros medicamentos usados para suprimir a reação imunológica.

“Foi uma montanha-russa na primeira semana”, afirma Riella. Ele assegura que Slayman respondeu ao tratamento como pacientes que recebem órgãos de doadores humanos.

Slayman está tomando vários medicamentos imunossupressores, e ele continuará sendo monitorado de perto com exames de sangue e urina três vezes por semana, além de consultas médicas duas vezes por semana.

Os médicos não querem que Slayman volte ao seu trabalho no departamento de transporte estadual por pelo menos seis semanas, e ele deve tomar precauções para evitar infecções por causa dos medicamentos que suprimem seu sistema imunológico.

“No final, queremos que os pacientes voltem a fazer as coisas que gostam, para melhorar sua qualidade de vida”, disse Riella. “Queremos evitar restrições.”

Até quarta-feira, Slayman estava claramente pronto para ir para casa, diz Riella.

“Quando chegamos pela primeira vez, ele estava muito apreensivo e ansioso sobre o que aconteceria. Mas quando o visitamos às 7h da manhã de hoje, ele estava com um grande sorriso no rosto e fazendo planos.”

FONTE: MAIS GOIÁS

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